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Tempo de leitura: 13 min

Sera Que É Só Burrice Mesmo ?

Não deve ser nenhuma novidade para vocês que me acompanham nas redes que nutro um recente interesse por política em geral. Eu nunca considerei que entendia muito bem sobre o assunto, mas sempre me considerei uma espécie de centrista à esquerda, justamente por reconhecer as contribuições dos governos petistas na minha formação, sem as quais eu provavelmente nunca teria me formado na USP (literalmente, minha família jamais teria tido condições financeiras para tal).

Sempre tentei entender a política através de uma análise de certa forma racional, herança da formação acadêmica em áreas exatas, e sempre tentei evitar defender com unhas e dentes o que eu considero não entender direito, justamente por princípio de parcimônia. No entanto, sempre entendi que era importante entender em algum momento da minha vida (uma vez que ela estivesse melhor resolvida).

burro

Isso mudou um pouco depois das eleições de 2018.

Nesta época eu já tinha feito o primeiro ano de Física, tinha passado os primeiros perrengues, perdido alguns amigos que desistiram do curso, feito amigos novos. Apesar dos pesares, riamos dos memes da internet, entre eles apareciam vez ou outra memes do Bolsonaro.

Para mim, que era uma pessoa alheia à política nesse nível de detalhe, era uma figura completamente desconhecida, e o humor sempre se deu pela caricatura e absurdismo dos memes.

Qual não foi minha surpresa em ver que as pessoas estavam realmente considerando colocar aquele palhaço que eu via em memes como presidente do país. Eu achava que não tinha me alienado aos detalhes como o impeachment da Dilma e o governo Temer, acusações de corrupção do PT e prisão do Lula, no entanto, não conseguia conceber aquela candidatura, era uma aberração ilógica. Eu até tentei convencer, através da internet, meus familiares e amigos no Facebook, mas nada adiantava. Eles repetiam ad eternum os mesmos “argumentos”: a esquerda é o demônio na terra, o comunismo ronda o mundo, o PT é comunista, o Lula é ladrão, o Bolsonaro tem propostas excelentes: castração química para estupradores e etc.

Eu simplesmente não entendia, como pode alguém achar que aquilo que se desenhava no horizonte era viável. Eu tentava apelar para a moralidade mas isso não adiantava — a moral deles já estava alinhada, eu tentava apelar para a racionalidade, mas apareciam linhas de raciocínio terríveis, uma pior que a outra.

Todas as respostas embutidas em imagens facilmente compartilháveis.

(Sim, até hoje me dá uma vontade de gritar com todo mundo daquela época EU AVISEI, NÃO AVISEI???? mas não quero voltar aquela merda nunca mais!)

Inclusive, eu tive a súbita revelação de que pessoas da minha família que considerava pessoas razoáveis, abraçando pautas e relativizando os discursos extremistas do Bolsonaro.

E agora a pior parte, eu não ia conseguir voltar para minha cidade, que ficava a cerca de 20 horas de estrada e uma quantia de dinheiro que na época para mim era bastante dinheiro (de certo modo, ainda é). Não sabia que tinha como transferir o título e já tinha perdido o prazo (inclusive, jovem, vê se não pastela!)

De qualquer maneira, o estrago já estava feito no primeiro turno 46,03% para Bolsonaro contra 29,28% de Fernando Haddad. Ninguém solta a mão de ninguém, Fascistas não passarão, Ele não, Prefiro Ciro e etc. Nada adiantou, o segundo turno entre o PT, que estava com a reputação terrível devida à conjuntura (Lava Jato, Prisão do Lula e etc) e o Bolsonaro já estava decidido.

Passaram, Deu ele sim

Todo mundo tentava processar o que tinha acontecido, dedos eram apontados e todos tentavam entender o que tinha acontecido com a esquerda e o Brasil, mas ninguém conseguia entender muito bem.

Para o meu desespero, as coisas desandaram legal: Vieram reprovações em Mecânica Clássica e Eletromagnetismo, mais e mais pessoas desistiam do curso e a pior notícia do Governo era a seguinte. A esperança em ter um governo que era minimamente razoável esvaía-se cada vez mais. Por motivos óbvios, eu precisei me focar cada vez mais nas disciplinas e tentei me alienar outra vez da política, felizmente Bolsonaro não conseguia fazer tudo aquilo que ele tinha prometido. Como tinha reprovado pela primeira vez, coisa que eu tentava evitar a todo custo, eu resolvi relaxar um pouco, tinham martelado tanto que na universidade só tinha vagabundo e maconheiro que eu resolvi ter uma vida social mais ativa: comecei a tentar ir nas festinhas da faculdade com os amigos.

Quando tudo parecia que não ia ficar tão ruim.

Veio a notícia de que tinha um certo vírus por aí, ninguém sabia muito bem o que era para fazer. As recomendações que surgiam eram meio difusas, inicialmente acharam que íamos só precisar usar máscara durante as aulas e era isso.

Ledo engano, as notícias de uma doença respiratória se espalhava e eu que morava no alojamento recebi a notícia de que as aulas seriam remotas. Já que fiquei com receio de pegar um vírus ao qual não existia sequer informação sobre sintomas direito, e eu tinha pessoas vulneráveis na minha casa, resolvi ficar. Durante a COVID eu me isolei dentro da universidade mesmo, em especial dentro do quarto.

Neste momento, eu voltei a acompanhar as notícias sobre as ações do Governo.

E foi um horror

Além de se isentar da responsabilidade, a atuação do Governo era desastrosa. Primeiro desqualificavam as soluções propostas pelos especialistas, ignoravam a curva de mortes que aumentava a cada dia e o risco da pane no sistema de saúde.

Tentavam a todo custo manter a máquina da economia funcionando, custasse a vida de quem fosse.

Quando surgia alguma fagulha de esperança, frente ao desenvolvimento em tempo recorde da vacina, disseminavam discursos anti-vacinação e teorias conspiratórias.

Foram 700 mil mortes.

Pós-2022

Após finalmente conseguir me vacinar, em múltiplas doses, as coisas pareciam melhorar. Finalmente ia poder rever minha família, que sobreviveu a todo esse inferno e principalmente IA PODER VOTAR NA PORRA DO LULA e ainda tive que convencer pessoas da minha família que votariam no Bolsonaro a SIMPLESMENTE NÃO VOTAR (pois é, mesmo após isso tudo ainda tive que bater o pé, gritar e espernear, deixar bem claro o que estava em jogo era o meu futuro, uma grande chantagem emocional da qual me orgulho É MUITO)

A frente ampla pela democracia finalmente deu certo, entrou o Alckmin, entrou Simone Tebet, entrou a porra toda nesse caralho de governo, mas pelo menos essa corja maldita ia sair da política.

Tudo parecia que estaria mais ou menos arrumadinho na minha vida, entraria no mestrado, tentaria um concurso e bom poderia descansar um pouco.

Arrumadinho

Não vou entrar em muitos detalhes pessoais, mas o Governo já meteu logo um ajuste no valor do SALÁRIO que chamam de bolsa de mestrado.

Tive que me mudar, alugar uma casa, pagar contas, fazer as novas disciplinas do curso etc.

Me iludi, me desiludi, as perspectivas ampliaram e depois reduziram.

O projeto andou, desandou, atrasou e recentemente avançou um pouco mais.

Em vez de escrever a dissertação (é esse o nome?) estou aqui desabafando num blog, em vez de ajustar os parâmetros e rodar novamente a simulação.

O dinheiro da reserva financeira que fiz da bolsa vai se esgotando, minha perspectiva de passar no doutorado não me parece muito boa e as perspectivas começam a ruir.

Começo a me preparar psicologicamente para os piores cenários, e tenho ficado um pouco mais pessimista sobre eles.

A ilíada do judiciário

Sempre usei o YouTube com o histórico desligado, depois do bloqueio do X acabei criando uma persona nova na internet nas redes (inclusive, no bsky) e comecei assistindo alguns vídeos recomendados sobre matemática, física, música e línguas.

Por um acaso do algoritmo, encontrei o Felipe Durante, que é um engenheiro de produção que mora na China há bastante tempo e tem vídeos legais sobre a cultura e história da China, além de vídeos sobre política em geral. Eu que tinha uma visão bem ignorante e senso comum da China, passei a vê-la com outros olhos, inclusive percebendo a mudança que vem acontecendo na economia global.

Durante suas lives onde costuma reagir a vídeos de figuras bastante caricatas da direita brasileira, os famosos doidinhos de bairro, conheci também o panteão dos webcomunistas, dos quais sempre tive um certo receio básico que vem do anticomunismo dominante.

No entanto, vi que são pessoas comuns, carismáticas e que ao contrário do que é muito difundido pela direita, sabem muito mais sobre economia do que os papagaios de direita fazem parecer.

Sobre as ideias do barbudo

Marx, o mais famoso dos três porquinhos, é justamente quem possui um entendimento sobre como disfunciona o capitalismo. Não li os calhamaços d’O Capital ainda, nem metade dos textos que existem, porém tive uma boa exposição das ideias através do Marx: uma introdução, de Jorge Grespan, na qual é possível obter um apanhado geral dos conceitos que são fundamentais da sua crítica ao capitalismo.

Eu gosto muito dessa sequência que é apresentada na série Mr Robot (2015):

Existe um grupo de poderoso de pessoas lá fora que secretamente manda no mundo

Estou falando de pessoas que ninguém conhece.

Pessoas que são invisíveis.

Elas são o 1% do 1%.

Em outra obra do mesmo autor, Sam Esmail, o personagem G.H, que ao que dá a entender é um trader afroamericano abastado no longa Leave The World Behind (2023) remenda esse pequeno detalhe que escapa na obra anterior:

Uma teoria da conspiração sobre um grupo sombrio de pessoas que mandam no mundo é uma explicação muito preguiçosa.

Principalmente quando a verdade é muito mais assustadora.

O outro personagem pergunta, e qual seria essa verdade?

Ninguém está no controle.

Não há ninguém puxando as cordas

E eu adoro este momento do filme.

É justamente o que Marx fez muitos anos antes, ao revelar que esse grupo malvado de pessoas, ao contrário do senso comum, NÃO EXISTE.

Não há coordenação por baixo dos panos, ninguém controla esse sistema e esse é EXATAMENTE o motivo dele quebrar de tempos em tempos.

Comunismo, webcomunismo

Recentemente, entrei em contato com o conteúdo do Pedro Ivo, que é uma pessoa extremamente carismática e possui divergências com várias teses correntes na esquerda e nas humanas.

Longe de dominar completamente todas as críticas que ele faz, existem algumas em especial que chamaram minha atenção, o antipetismo e o anti-iluminismo que povoa a chamada esquerda radical ou revolucionária.

“Mas não pode criticar o PT?”

Encontrei o canal do Ivo, o chamado ateuinforma, através da Croezinha. Na época, eu ainda estava procurando entender as brigas internas dentro da esquerda, as diferentes correntes de pensamento, e claro, dar umas risadas também.

Bom, eu já estava vendo trechos das rinhas entre doidinhos de bairro e os comunistas. Claramente, em embates intelectuais as personas de esquerda levam a melhor tecnicamente. Porém, como vimos com Álvaro Borba em seu embate vexaminoso com mamãefalei, não basta apenas possuir o ethos (a credibilidade, a experiência, a moral, etc.) — é preciso também dominar o pathos, que são basicamente as emoções da audiência.

Foi assim que conheci o Jones Manoel, através de seu canal Farol Brasil, onde ele se apresenta como uma figura de esquerda crítica. No início, achei interessante sua abordagem, mas logo percebi que se tratava de um militante do PCBR (um racha entre o PCB e a juventude do partido) que disfarçava ataques ao governo Lula como se fossem “críticas necessárias”. Suas teses frequentemente igualavam PT e Bolsonaro como sendo “fundamentalmente iguais”, exceto talvez no manejo da pandemia, ou tratava figuras como Haddad como “neoliberais disfarçados”.

Foi então que o Pedro Ivo alertou para o perigo dessa linha de pensamento: ao igualar coisas que são fundamentalmente diferentes, estamos repetindo o erro histórico do socialfascismo stalinista. Nos anos 1930, a Terceira Internacional (Comintern) classificou os partidos social-democratas como socialfascistas, tratando-os como equivalentes ao nazismo. Essa posição teve consequências catastróficas: impediu que a esquerda se unisse contra Hitler, contribuindo diretamente para o fortalecimento do nazismo na Alemanha.

A crítica do Pedro Ivo é contundente: quando parte da webcomunada trata o PT como se fosse igual ao bolsonarismo, ou quando reduz toda a política a uma falsa equivalência entre progressismo e fascismo, está cometendo o mesmo erro histórico. Essa posição não é “crítica”, mas sim uma forma de sabotagem política que beneficia exclusivamente a direita extremista.

A lição histórica é clara: reconhecer as diferenças qualitativas entre governos é fundamental para construir estratégias políticas eficazes. Não podemos cair no erro de tratar como equivalentes um governo que implementa políticas sociais e um que promove genocídio durante uma pandemia, como vimos com as 700 mil mortes no Brasil. A verdadeira crítica de esquerda precisa ser capaz de reconhecer avanços e limites sem cair na armadilha do equivalencismo, que historicamente só serviu para fortalecer o fascismo.

O Aceleracionismo Perigoso da Webcomunada

O que mais me incomoda na webcomunada não é apenas a superficialidade de suas críticas, mas sim o aceleracionismo disfarçado de radicalidade. Essa postura, que insiste que “quanto pior, melhor”, revela uma desconexão total com a realidade material das pessoas — aquelas 700 mil famílias que perderam entes queridos durante a pandemia não estão interessadas em teorias abstratas sobre “lutar na base do tudo ou nada”.

Pedro Ivo chama atenção para como parte da esquerda online caiu num vórtice de autossabotagem política: em nome de uma pureza ideológica inexistente, tratam governos progressistas como se fossem equivalentes ao fascismo. Quando o Jones Manoel do PCBR afirma que Haddad é “neoliberal” ou que PT e Bolsonaro são “fundamentalmente iguais”, está repetindo o mesmo erro estratégico que levou ao fortalecimento de Hitler na Alemanha — o socialfascismo stalinista que tratava social-democratas como equivalentes aos nazistas.

“Se é burguês, não presta.”

Marx, apesar de ser um crítico radical do capitalismo, nunca rejeitou os avanços das revoluções burguesas — pelo contrário, ele os incorporou em sua própria metodologia. Sua crítica ao capitalismo foi feita com as ferramentas do Iluminismo: razão, ciência, busca por verdades objetivas e a ideia de progresso histórico (mesmo que reinterpretado de forma dialética e materialista).

O que o pós-modernismo fez, particularmente em certas vertentes da esquerda, foi justamente jogar fora o bebê com a água do banho. Ao rejeitar categorias como “verdade objetiva”, “progresso” e “razão universal”, criou-se um vácuo teórico que impede uma análise materialista consistente do capitalismo, leva ao relativismo extremo onde “tudo é igual” e neutraliza a capacidade da esquerda de propor alternativas concretas baseadas em evidências.

A tragédia histórica é que Marx usou a melhor tradição do Iluminismo para criticar seus limites no contexto capitalista, enquanto parte da esquerda contemporânea abandonou as ferramentas necessárias para fazer essa crítica de maneira eficaz.

Quando a esquerda começa a tratar Haddad como “neoliberal” ou iguala PT e Bolsonaro, está operando dentro dessa lógica pós-moderna que rejeita a possibilidade de analisar diferenças qualitativas entre regimes políticos — exatamente o oposto da metodologia marxista, que sempre enfatizou a análise concreta de situações concretas.

É por isso que a crítica ao anti-iluminismo é tão importante: sem a confiança na razão e na ciência (que não são perfeitas, mas são nossas melhores ferramentas), a esquerda perde sua capacidade de distinguir entre o que é progressivo e o que é reacionário, repetindo assim os erros históricos do socialfascismo.

Sem perceber, os webcomunistas estão minando as bases teóricas necessárias para uma esquerda eficaz e abrindo caminho para o fortalecimento de uma extrema-direita.

Primeiro, há um problema geracional: muitos ativistas online cresceram em um período pós-2016 onde a polarização atingiu níveis extremos, e passaram a ver toda política através dessa lente distorcida de “PT versus anti-PT”, esquecendo que existem diferenças qualitativas entre um governo que implementa políticas sociais e um que promove genocídio.

Segundo, há um problema de plataforma: nas redes sociais, a postura mais radical e aceleracionista gera mais engajamento. Críticas moderadas e matizadas não viralizam como “PT é igual ao Bolsonaro” ou “Lula é mais neoliberal que Bolsonaro”. Isso cria um incentivo perverso para que figuras da “webcomunada” adotem posições cada vez mais extremas para ganhar seguidores.

Terceiro, há um problema teórico: parte da esquerda abandonou o materialismo histórico em favor de abstrações pós-modernas que negam a possibilidade de progresso real. Se tudo é igualmente ruim, então qualquer governo é indistinguível de um fascista — o que é exatamente o oposto do que Marx ensinou sobre analisar as contradições específicas de cada momento histórico.

A tragédia é que essa postura não apenas é intelectualmente desonesta, mas também politicamente suicida. Ao tratar como equivalentes um governo que restabelece o Bolsa Família e um que celebra torturadores, esses “comunistas de internet” estão, sem perceber, fazendo o jogo da direita. Como dizia o próprio Marx: “A história se repete primeiro como tragédia, depois como farsa.” O socialfascismo dos anos 1930 foi uma tragédia; vermos sua réplica na “webcomunada” contemporânea é uma farsa trágica.

Velho, Fascista e Morto. Era também mentiroso!

Não vou negar que me causou um estranhamento ao ver que o Pedro Ivo, de certa forma, alerta para o fato de que a esquerda ignora e ignorou a figura do Olavo de Carvalho, como sendo apenas um lunático, um burro.

Até que enfim, YouTube me recomendou um vídeo de um canal aleatório com o título “Dialética | Olavo de Carvalho”. Eu hesitei. Não queria dar palco e você deve bem conhecer os discursos que tentam chancelar e domar a lógica das redes através das nossas ações individuais (uma visão de esquerda LIBERAL no mundo, talvez eu entre em detalhes no futuro).

Tomei a decisão de assistir a esse vídeo, nele Olavo de Carvalho estava tratando um assunto: o motivo pelo qual a Esquerda domina nas eleições e a Direita não entende, por não compreender a cabeça dos comunistas.

O que ouvi me fez ter um verdadeiro momento de eureka: Olavo explicava que na visão dele, a direita, por ser positivista e cartesiana, não compreende como a dialética funciona na prática política. Segundo ele, a esquerda ganha eleições justamente por operar com contradições aparentes, por ser “maluca e contraditória”, e que a direita deveria aprender a fazer o mesmo. Ele citava exemplos como “o governo russo, sendo cristão ortodoxo, apoia países islâmicos” para ilustrar o que chamava de “lógica dialética” da esquerda.

Foi então que percebi: essa não é uma burrice da direita, mas sim uma estratégia deliberada de construção de narrativas políticas. A extrema direita descobriu que pode operar com contradições explícitas sem se preocupar com coerência lógica — defendendo ditadura enquanto simultaneamente alega que já vivemos sob uma ditadura, por exemplo. E justificam essas contradições chamando-as de “processos dialéticos”.

A grande revelação foi entender que essa filosofia aparentemente incoerente, embora seja uma deturpação completa da dialética marxista (que, aliás, nunca funcionou assim), demonstrou ser eficaz na prática política.

Seja por mera coincidência ou não, figuras como Bolsonaro conseguiram mobilizar as pessoas com discursos contraditórios e subiram ao poder — não porque seus seguidores são burros, mas porque essa é exatamente a metodologia política que foi desenvolvida.

Por anos, a esquerda ridicularizou Olavo como um “velho fascista maluco e mentiroso” (o que ele de fato é), sem perceber que ele havia identificado e instrumentalizado com precisão uma fraqueza estratégica, a insistência em coerência lógica em um campo político onde a contradição deliberada pode ser mais eficaz.

Foi um choque perceber que, mesmo sendo um completo charlatão, ele produziu resultados mensuráveis na política brasileira — e que sua “filosofia de merda”, de certa forma, pode ter funcionado.

Agora entendo que não se trata simplesmente de burrice ou ignorância, mas de um M.O. político consciente. E é justamente por isso que essa galera o idolatra tanto — não por suas ideias, mas por sua aparente eficácia prática em construir narrativas que ressoam, mesmo quando logicamente incoerentes.

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